Plataforma Brasil

Apostando mal, pagando caro

Por: Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial e membro do conselho editorial da DVS Editora.

Caro leitor, o título deste artigo reflete um dos mais sábios e antigos ditados da economia popular. De fato quem investe mal, acaba por investir muito mais do que pretendia. Este é o solene preço das más escolhas. Aqui não há perdão, é meritocracia de investimentos em estado bruto. Sem nenhuma dúvida uma lei atemporal. Já era conhecida durante o império romano, permanecerá em vigor enquanto não inventarem a máquina do tempo. Mais do que isso, sua amplitude para analogias é extensa, e é nessa extensão que navegaremos nas próximas linhas.

No mundo da dinâmica e das trocas econômicas, as consequências das más escolhas sempre chegam  com a sua fatura, mais gordas ou mais magras, dependendo do tamanho da bobagem do passado – uma simples relação proporcional. Neste contexto, uma forma eficiente de garantir uma parruda fatura para o futuro, é o exercício disciplinado da alienação política da classe empresarial/produtiva. No caso brasileiro em questão, quando maior for o distanciamento das questões públicas e do inerente jogo político envolvido – em especial aquelas com impacto macro e microeconômico direto – mais salgado será o preço a se pagar.

Não se trata da defesa de um exercício de influência que submeta as questões públicas ao mundo privado, mas a sujeição total e o abandono das arenas de discussão e disputa também não podem refletir em bons resultados. Uma boa dica é observar com cuidado o complexo legal – recentemente atualizado – que aborda as condições de trabalho que caracterizam o crime de exploração da escravidão no Brasil. O empresário ficará espantado em como é fácil se encontrar direta ou indiretamente envolvido com este delito, que para ele sempre pareceu ser “coisa de novela”, de exceções do mau-caratismo empresarial ou de livros de história. Outra boa dica é acompanhar o processo de alteração do endereço fiscal de uma empresa. Na grande maioria das cidades brasileiras, este processo leva aproximadamente noventa dias (em outras pode levar seis meses). Porque será?

Deixando um pouco de lado a burocracia que aparentemente torna-se maior e mais complexa a cada ano, e a legislação cada vez mais hostil para quem produz, me inclino ao universo da grande política nacional (aquela que é semeada em Brasília e nos estados mais proeminentes).

Nos últimos dias me cansei de ler sobre o baixo impacto nos mercados diante da nossa queda na classificação de risco da Standard & Poor’s, e um tanto intrigado com o desdém governamental sobre o assunto (me recordo bem do ufanismo oficial quando recebemos o grau de investimento da mesma agência de classificação), mas fica a pergunta. Precisávamos disso?

Ainda não estamos enfrentando o racionamento de energia, mas adicionando-se à problemática do alto custo das termelétricas (uma fatura por si só, e que não tardou a chegar) ,o ministério das Minas e Energia já admite a possibilidade de uma “redução voluntária”, mas destacam que não será nada compulsório. Precisávamos disso?

Não vou abordar a novela envolvendo a compra da refinaria de Pasadena e nem da perda de valor de mercado na maior empresa brasileira e seu impacto direto nos ânimos da dinâmica do nosso mercado de capitais  (isto é assunto para novos artigos). Convenhamos, isso tinha que acontecer?

Escuto também que a economia ainda assim reage, que muitos investimentos estão sendo mantidos, e novos ainda estão chegando (até quando não sabemos). Tudo bem, isso não é negativo, e na verdade não creio em nenhuma hecatombe no horizonte. Mas não poderia ser muito melhor?

Neste cenário de desalento e de avaliação governamental em queda, leio e observo o burburinho ainda discreto, mas crescente, nos universos produtivo e político-aliado, de que o caminho a seguir seria uma correção dos rumos, potencialmente encabeçada por outro candidato do mesmo grupo e que obviamente compartilha das mesmas crenças.

É mesmo essa a compra que faremos?

Para concluir, penso que já passou da hora de nossa classe empresarial e do mundo corporativo abandonar de vez o bobajal cosmético com suas modinhas e submissões politicamente corretas e começar a enfrentar os problemas reais. Tomando posição com coragem, e recusando compras e apostas com resultados duvidosos. Não conheço nenhuma outra receita para receber faturas mais magras no futuro.

Até o próximo