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A Filosofia de volta aos negócios

DVS, DVS Editora, Blog do Editor, Ética, Livros OnlineEsqueça a economia. A filosofia oferece um modo mais profundo e amplo de pensar em como ajudar as empresas a se guiarem através de tempos endurecidos por ideias ultrapassadas.

Por Dov Seidman, artigo publicado na BusinessWeek.

As crises financeira e climática, os hábitos de consumo global e outros desafios do século 21 necessitam de uma “ferramenta matadora”. Eu acho que a encontrei: trata-se da filosofia.

A filosofia nos ajuda a literalmente localizar os desafios existenciais que o mundo atualmente enfrenta, mas apenas se conseguirmos transpor isso do plano do pensamento para a prática nos negócios.

A filosofia explora as mais profundas e limítrofes questões da vida – porque existimos, como a sociedade consegue organizar a si mesma, como as instituições conseguem se relacionar com a sociedade, qual o propósito do esforço humano, isso só pra citar algumas. A Riqueza das Nações, um livro que serve como plataforma intelectual para o capitalismo, discute como os mercados devem ser organizados e como as pessoas devem se comportar em tais mercados. O autor do livro, Adam Smith, não foi um economista, como muitos acreditam, mas um filósofo. Smith era presidente do Departamento de Filosofia Moral na Universidade de Glasgow (Reino Unido), quando escreveu o livro.

Como outros filósofos, Smith tentou criar um novo quadro para a compreensão do mundo, abordando como nós, como nós seres humanos buscamos o alinhamento de nossas relações e interesses entre os concorrentes.

A abordagem filosófica usada por Smith, apesar de ter caído em desuso, pode ser considerada mais relevante do que nunca, para dar luz às crises que as nossas organizações e países enfrentam. Crédito, o clima, e as crises de consumo não podem ser resolvidos somente através do conhecimento técnico e especializado.

Esses problemas, assim como a maioria das questões enfrentadas pelo mercado mundial, denotam uma complexa interdependência que requer um entendimento de como os interesses políticos, financeiros, preservacionistas, éticos e sociais influenciam uns aos outros. Uma abordagem filosófica que conecte os pontos entre os interesses que competem entre si, num esforço de criar uma sinergia. Ligar interesses antagônicos exige que os filósofos analisem questões que hoje em dia são frequentemente ignoradas como: crenças, ética e caráter.

Quando eu digo que precisamos voltar a uma abordagem filosófica em relação à resolução de problemas, quero dizer que precisamos ampliar nossa compreensão dos problemas, olhando mais profundamente para as nossas próprias crenças, valores, ética e caráter, e assim compreender como eles se relacionam aos de outros que compartilham um interesse em nossos esforços para resolver problemas.

PRECISA-SE: DE QUESTÕES MAIS AMPLAS E METAS

Há uma crescente dificuldade em nível organizativo por muitas de nossas empresas estão dominadas por um pensamento especializado e tecnicista. Nós temos problema em conectar os pontos entre essas diferentes formas de pensar de modo a conceber soluções duradouras.

Assim como os filósofos, nós, como indivíduos, e as organizações precisam manter seus valores, ética e a condição humana global em mente quando tomamos decisões e agimos.

Entre outros comportamentos, isso diz respeito a contratar pessoas pelo caráter (além de pelos conhecimentos específicos), considerando as implicações de longo prazo (além das vantagens em curto prazo) de nossas decisões, e descobrir como podemos criar valor (além de extrair valor).

Ao tomar essas medidas e adotando uma abordagem mais filosófica para resolução de problemas, vamos estabelecer o caráter como fator de diferenciação competitiva no século 21. Como o filósofo grego Heráclito tão elegantemente colocou quase 2.500 anos atrás: “O caráter é destino”. Isso vale para indivíduos e organizações.

Eu vejo cada vez mais provas de empresas afirmando seu desejo de abordar a condição humana, o que certamente representa um passo na direção certa.

Minha tendência decorre da minha experiência como estudante na UCLA, onde a filosofia acendeu um fogo dentro de mim. Ao recompensar-me pelo exame cuidadoso de uma idéia, ao invés vez de me obrigar a ler centenas de páginas de texto, a filosofia me ajudou a entender porque eu estava lutando em todas as áreas acadêmicas. Estudei filosofia, durante sete anos antes de ir para a faculdade de direito, onde cursei oito matérias sobre jurisprudência, que é essencialmente a filosofia do Direito.

UM SETOR EMPRESARIAL MAIS ÉTICO

Embora tenha os meus estudos filosóficos, porque eu estava inspirado pelo assunto, eu também cheguei à conclusão que me levou a fundar a LRN, uma empresa que ajuda as empresas a desenvolver culturas corporativas éticas: a filosofia é suficientemente poderosa para resolver até os problemas com maior poder de difusão. Esta disciplina continua a ser incrivelmente praticável, mesmo após mais de 2.000 anos de existência.

Aqui está um exemplo oportuno e prático de como aplicar a filosofia pode gerar uma idéia nova do negócio: Na LRN, nós não pensamos que os nossos fornecedores como simples “fornecedores” ou os nossos clientes como “compradores”. Eles são os nossos “parceiros” em um esforço comum para construir nossos negócios juntos e a serviço de uma grande idéia: a de um setor corporativo mais ético. Isso pode parecer abstrato, mas é realmente bastante prático.

Quando você compartilha um conceito filosófico ou uma visão de mundo, você criar o alinhamento, quer seja com um colega, um parceiro comercial, ou outro dos interessados. Sem essa visão compartilhada, as relações muitas vezes atolam em disputas de baixo nível.

Durante as negociações envolvendo a LRN, por exemplo, em vez entramos em conflito com nossos parceiros por causa de pequenos detalhes, nós nos esforçamos para lembrar que compartilhamos uma base comum e que estabelecemos um comprometimento por já trabalhar juntos há anos. Se lembrarmos disso, estamos mais propensos a chegar a um acordo ganha-ganha que aprofunde as nossas ligações.

LRN não está sozinha. Como eu escrevi em uma história anterior, as empresas parecem mais ansiosas para aprofundar as relações com os seus próprios parceiros e com a condição humana em geral. Recentemente, eu estava impressionado com a simplicidade dos anúncios da Ally Banco de impressão, manifestando a sua vantagem competitiva: “We Speak Human” (algo como “Nós falamos com seres humanos”).

PROCURA-SE: FILÓSOFOS DE TERNO E GRAVATA

Essas corporações estão promovendo a idéia de que sua missão vai além do lucro e prevê novas estruturas de transporte, combustíveis, fabricação e assim por diante, para melhorar a existência. Estas afirmações requerem ações de apoio a longo prazo se quiserem ter mérito. No nosso mundo interligado e transparente, onde muitos podem facilmente ver profundamente como funcionam as nossas operações, tornou-se claro que as nações e as empresas ainda têm caráter e que seu caráter é seu destino. Para as instituições garantirem que seus personagens, ou cultura, são consistentes com seu comportamento, elas precisam de mais seres humanos dentro de suas organizações, que podem se manifestar de forma adequada à cultura desejada através de liderança, práticas de negócios, e comportamentos individuais.

Quando LRN publicou um anúncio de emprego para o cargo de administrador do escritório de Nova York que Emily recentemente conquistou, nós incluímos um quesito específico para permitir que os candidatos soubessem que, além de suas competências administrativas, nós valorizamos o que poderia contribuir para nossa empresa: “Ter uma preferência especial pela Filosofia.” Esperávamos encontrar alguém como a Emily, que poderia realmente entrar em contato com a nossa missão e não apenas “fazer o trabalho”. Essa qualificação parecia uma idéia brilhante.

Isto se converteu em uma idéia prática. Antes da minha viagem, em setembro, à China, a nossa filósofa Emily tomou a iniciativa de juntar um grupo de funcionários que discutiram comigo sobre as maneiras que eu poderia usar para me aproximar e discutir temas como valores, ética e comportamento com os executivos de empresa internacionais, empresários locais, estudantes e cidadãos chineses. Nossa gerente e filósofa nos acrescentou um valor de um modo que dificilmente alguém poderia fazer. Qualquer um – e não somente pessoas como a nossa Emily – podem pensar de forma mais ampla e mais profundamente sobre as crenças e valores na raiz de nossa crise.

Esta é uma notícia esperançosa num momento em que grandes problemas estão forçando as pessoas a se acomodarem ao invés de inclinar-se e conectar-se.

Essas conexões são vitais conforme nos envolvemos mais profundamente com maiores desafios do século 21. Ao fazermos isso, vamos descobrir que a filosofia aplicada não é apenas uma “ferramenta matadora”, em um sentido prático, mas necessária e fundamentalmente humana.

Sobre Dov Seidman

Segundo Seidman, a nova lógica mundial prega o comportamento, a transparência e conectividade como fatores de diferenciação. É o que o autor chama de “Out-Behaving de Competition”.

DVS, DVS Editora, Blog do Editor“O mundo mudou”, defende o autor, “a popularização da tecnologia da informação tem feito do bom comportamento um fator de extrema importância porque se torna cada vez mais difícil esconder o mau comportamento. Em última análise, a única maneira de desfrutar de uma boa reputação é a ganhá-la vivendo com integridade. Nós não podemos controlar nossas histórias, mas podemos controlar a forma como vivemos nossas vidas.”

Dov Seidman é chefe da LNR, empresa que tem ajudado algumas das mais respeitadas companhias do mundo a criar culturas vencedoras do “fazer o certo”. Em seu livro COMO: Por Que o COMO Fazer Algo Significa Tudo . . . nos Negócios (e na Vida), ele mostra como a avalanche de informações e a transparência sem precedentes remodelaram o universo empresarial de hoje e mudaram expressivamente as regras do jogo. Não é mais o quê se faz que o distingue dos outros, mas o como faz. Os o quês são itens básicos, fáceis de serem copiados ou de se aplicar engenharia reversa. A vantagem sustentável e o sucesso duradouro – tanto para as companhias como para as pessoas que nelas trabalham – hoje estão na esfera do como, a nova fronteira da conduta.

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