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O que está em perigo: o clima ou a nossa liberdade?

O que está em jogo é a liberdade do ser humano/ O ambientalismo é uma ideologia semelhante à religião/ Ele também tem várias semelhanças com o marxismo/ O debate do autor com Al Gore e a crítica às obras de Al Gore/ A importância da economia para o debate

Por Václav Klaus

Há algum tempo venho falando e escrevendo a respeito do meio ambiente, mas de maneira não muito organizada. E há tempos desejo apresentar ao público em geral as opiniões bastante complexas que tenho a respeito do atual debate sobre o meio ambiente em geral (o qual se dá de maneira bastante injusta e irracional) e sobre o aquecimento global, em particular. Esse é um debate cada vez mais se parece com uma disputa ideológica e política, mas somente quando serve de substituto para outras questões — e este problema é algo que pretendo salientar nesta obra.

Os temas comuns dessa disputa (ou talvez confronto) estão claramente relacionados à liberdade do ser humano, e não ao meio ambiente. Tais temas são mais relevantes para os países desenvolvidos e comparativamente ricos do que para os menos desenvolvidos e mais pobres, onde as pessoas costumam enfrentar problemas mais imediatos. Mas é certo que esses países mais pobres enfrentam um perigo ainda maior: o de saírem lesados nesta briga, a qual eles nem mesmo começaram. Tais países são agora reféns dos ambientalistas, que sugerem pôr fim ao progresso humano, pagando por isso um custo muito elevado. As vítimas finais serão os mais pobres. Além disso, já existem propostas de leis e medidas que, até o momento, não surtem nenhum efeito significativo. Como muito bem salientou Bjørn Lomborg (2007), implementar todas as recomendações propostas por Al Gore (à custa de grandes gastos) acarretará resultados pífios: graças ao suposto aumento do nível do mar, os habitantes da parte litorânea de Bangladesh irão se afogar não em 2100, mas em 2105, caso as catastróficas estimativas atuais de fato venham a ocorrer! É por isso que Lomborg está, como eu, convencido de que devemos agir de modo completamente diferente, fazer algo que possa trazer resultados concretos.

 

 

Não seria a única esperança para o nosso planeta que as civilizações do mundo industrializado entrassem em colapso? E não seria nosso dever levar isso a cabo?

 

Maurice Strong

Presidente do Conselho das Nações Unidas para a Universidade da Paz e criador do Protocolo de Kyoto

(citado em Horner, 2007)

 

 

Antes de continuar, gostaria de deixar claro que estou de pleno acordo com as opiniões dos liberais clássicos, um grupo de seres humanos que está, ele mesmo, à beira da extinção. Os liberais clássicos estão certos em insistir que a maior ameaça para a liberdade, a democracia, a economia de mercado e a prosperidade, ao fim do século XX e no começo do século XXI, não é mais o socialismo (e certamente também não a sua versão mais radical, a qual nós, tchecos, viemos a conhecer de perto na era comunista). A maior ameaça, na verdade, é a ambiciosa, inescrupulosa e bastante arrogante ideologia do ambientalismo. O ambientalismo é um movimento político que originalmente teve início com a ideia de proteção do meio ambiente — uma meta pouco pretensiosa e talvez até mesmo genuína —, mas que gradualmente transformou-se numa ideologia quase sem nenhum vínculo com a natureza.

Em tempos recentes, essa corrente ideológica tornou-se a principal alternativa a ideologias que basicamente estão em busca da liberdade. O ambientalismo é um movimento que pretende mudar radicalmente o mundo, independentemente das consequências (ao custo de vidas humanas e de restrições severas sobre a liberdade individual). Pretende mudar a humanidade, o comportamento humano, a estrutura da sociedade, o sistema de valores — tudo, em suma.

 

Toda vez que alguém morrer por causa de uma enchente em Bangladesh, deveríamos pegar um desses executivos das empresas áreas, arrastá-lo para fora de seu escritório e afogá-lo.

 

George Monbiot (2006)

Jornalista britânico do jornal The Guardian

 

 

Para evitar mal-entendidos, gostaria de esclarecer que meu objetivo não é dar opiniões pessoais sobre as ciências naturais ou a Ecologia como ciência. O ambientalismo, na verdade, nada tem a ver com as ciências naturais. E, o que é pior, infelizmente ele nada tem em comum com as ciências sociais, muito embora opere na mesma área que elas. Neste aspecto, o ambientalismo demonstra a total inocência de (alguns) cientistas naturais que aplicam princípios científicos à sua própria disciplina, mas que descartam completamente tais princípios sempre que passam a outra área de estudo.

 

Sobre Václav Klaus

Desde 2003, Václav Klaus ocupa o cargo de presidente da República Tcheca. Deu início a sua carreira política em 1989, como ministro da Fazenda. Em 1991, foi nomeado vice-presidente do governo da República Federal Tcheca. No fim de 1990, tornou-se presidente do Fórum Civil que, à época, era a entidade política de maior força no país. Com o fim da instituição, em abril de 1991, foi co-fundador do Partido Democrata Cívico, e ocupou o cargo de presidente do partido até dezembro de 2002.

Václav Klaus ganhou a eleição parlamentar em junho de 1992 e tornou-se primeiro-ministro da República Tcheca, administrando o “Divórcio de Veludo” da Federação Tcheco-eslovaca. Em 1996, ele conseguiu continuar no cargo de primeiro-ministro com as eleições para a Câmara dos Deputados. Depois do colapso da coalizão do governo, ele se despediu do cargo em novembro de 1997. Depois de uma eleição geral compulsória, em 1998, ele se tornou presidente da Câmara dos Deputados durante quatro anos. Václav Klaus formou-se pela Universidade de Economia de Praga e recebeu seu título de doutor em Economia do Instituto de Economia da Academia Tcheca de Ciências.

 

 

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