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Um cérebro em forma num corpo magro

Na arena do gerenciamento de alimentação e peso, é a indústria alimentícia que fez o uso mais dramático das descobertas da neurociência, usando o que a ciência nos ensina sobre o cérebro para chegar a sua carteira pela via do estômago. Não é simplesmente que os fabricantes de alimentos querem que você coma o máximo possível; eles querem que você coma o máximo de vezes possível.

Por Georgia D. Andrianopoulos

Faço esta promessa de mudança baseada em anos de pesquisa e treinamento de boa forma do cérebro que mudaram a vida de centenas de pacientes. Meu campo é a psicologia fisiológica com foco em distúrbios alimentares. Comecei meu trabalho com distúrbios alimentares na Faculdade de Medicina da Universidade de Illinois, Departamento de Cirurgia, em meados dos anos 80; ali, eu me concentrei em estudar o papel do estresse, da atividade física e diferentes dietas em distúrbios gastrintestinais, incluindo o câncer. Levei os resultados desses estudos e pesquisa para o meu trabalho de ensino nos departamentos de cirurgia e psiquiatria da faculdade de medicina e para meu trabalho como diretora da clínica de distúrbios alimentares no Centro Médico da Universidade de Illinois em Chicago.

Ao longo dos anos, minha própria pesquisa e as fascinantes novas descobertas da neurociência – ou seja, o estudo do cérebro, da espinha dorsal e do sistema nervoso – tornaram-se a base para soluções práticas para combater a obesidade, o excesso de peso e outras condições causadas pela alimentação inadequada.

“Não é simplesmente que os fabricantes de alimentos querem que você coma o máximo possível; eles querem que você coma o máximo de vezes possível.”


Fui estimulada especialmente por minhas recentes descobertas de pesquisa que mostram que não estamos fadados a viver com os cérebros que herdamos ou com os quais fomos criados. Nossos cérebros apresentam neuroplasticidade: são adaptáveis e podem ser reprogramados ao longo da vida por nossas experiências diárias. Eles não são “fixos, acabados e imutáveis”, como o neuroanatomista Ramón Cajal disse em 1913. Em 1999, eu reuni tudo no Treinamento de Desempenho Ótimo (TDO), o programa que você conhecerá neste livro, e fundei a Brain Fitness, um centro para aplicação prática de ferramentas baseadas no cérebro para atingir a perda de peso. Em nossas clínicas em Chicago e arredores, o cérebro é o órgão-alvo – parte frontal e central – para indivíduos que buscam ajuda para regular alimentação e peso. Descobrimos que o trabalho de gerenciamento de peso é muito mais fácil quando o cérebro coopera e funciona de forma muito mais fluente.

Também pus essa pesquisa em operação em um plano de alimentação que combina o melhor de uma dieta no estilo do Mediterrâneo (eu disse que sou grega!) com as últimas descobertas neurocientíficas sobre alimentos que promovem a boa forma do cérebro. A dieta BrainMed, como eu chamo, também está incluída neste livro.

Evidentemente, os avanços na neurociência já deram origem a soluções “neuro” para tratar de todo tipo de lutas e desafios: depressão, atenção e foco, ou mesmo ciúme. A declaração de George W. Bush sobre os anos noventa como a “década do cérebro” trouxe essa parte da nossa anatomia para o foco principal. Existem livros e palestras e simpósios sobre neurocomputação, neurorreabilitação, neurolinguística, e até neuroacupuntura, sem falar nos tratados gerais sobre como ter um cérebro melhor para ter uma vida melhor. As agências entraram até mesmo no campo do neuromarketing: usar a natureza do cérebro para vender uma marca específica de sapatos de ginástica ou biscoitos de chocolate.

Mas, na arena do gerenciamento de alimentação e peso, é a indústria alimentícia que fez o uso mais dramático das descobertas da neurociência, usando o que a ciência nos ensina sobre o cérebro para chegar a sua carteira pela via do estômago.

Não é simplesmente que os fabricantes de alimentos querem que você coma o máximo possível; eles querem que você coma o máximo de vezes possível. E, de forma rotineira, usam dados científicos para manipular seu cérebro para fazer com que você faça ambas as coisas. Eles o fazem em suas estratégias de marketing, e o fazem com aditivos que podem realmente afetar seu apetite e seus hábitos alimentares.

Um pouco desse marketing é bastante evidente. Se você assiste a televisão, é bombardeado pelos atraentes comerciais de comida voltados para a atividade crescente na parte irracional, emocional e inconsciente do cérebro conhecida como sistema límbico. É aí que os marketeiros de comida pegam você. Eles não querem que você aja racionalmente, de jeito nenhum; querem que você simplesmente reaja, inconscientemente e sem pensar. Então você pode estar completamente inconsciente de que está sequer prestando atenção ao comercial, no entanto, subliminarmente, aquela imagem de TV cuidadosamente composta de um sundae de brownie (ou uma pessoa muito atraente saboreando um sundae de brownie) vai diretamente para a parte emocional do seu cérebro. De repente, quase como um dos cães de Pavlov, você está se dirigindo à geladeira ou despensa (ou correndo para o carro) para fazer o que quer que seja preciso para obter aquele sabor delicioso.

Algumas estratégias de marketing são camufladas. Da próxima vez que for ao seu supermercado local, dê uma olhada nos produtos nas “esquinas” dos corredores. É ali que os gerentes de loja tendem a colocar os lanches calóricos com baixo valor nutricional e altas margens de lucro: batatas fritas, biscoitos, bolos e similares. O motivo? Incontáveis estudos chegaram à conclusão de que nada vende tão bem quanto as comidas “das esquinas”, especialmente aquelas colocadas ao nível do olhar.

Mas estratégias de marketing inteligentes baseadas em anos de pesquisa psicológica são apenas uma parte disso. Aditivos alimentares são o outro lado da moeda, e a indústria alimentícia é adepta de adicionar componentes aos seus produtos alimentares que nos manipulam a ansiar por certos alimentos e comer por causa da ânsia quando não estamos com fome.

Isso não é difícil de fazer. Como aprenderemos neste livro, o campo emergente da nutrigenômica mostra que nossos cérebros e mesmo nosso DNA são, realmente, reconfigurados pelos alimentos que comemos. A comida pode ligar ou desligar genes e influenciar não somente seu peso e os alimentos dos quais você tem vontade, mas a saúde e a doença. Nós sabemos há muito tempo, por exemplo, que algumas pessoas que são expostas a uma dieta que é rica em gorduras, açúcar e calorias no início da vida tendem a se tornar permanentemente vulneráveis a estar com excesso de peso. E aprendemos, pelo menos em parte, por que isso é assim: de forma simples, aqueles tipos de alimentos realmente estimulam o crescimento de trilhas que conectam áreas do cérebro onde se formam os vícios. Alguns ingredientes de comidas podem realmente reconectar as trilhas do cérebro. Isto significa que seu desejo por essas comidas se origina nas mesmas áreas do cérebro que o desejo por substâncias que causam dependência como heroína ou álcool. Junto com a reconexão das trilhas vêm as mudanças comportamentais: entre elas, evitar atividade física e um desejo intenso de provar essas “comidas de conforto” (“Eu quero comer isso agora!)

Sem título-2Então a indústria alimentícia pôs seus laboratórios para trabalhar para inventar aditivos manufaturados e combinar nutrientes de formas que podem ter efeitos semelhantes, produzindo ânsia por sabores específicos e comidas específicas. E mais, tentaram intensificar essas ânsias além de tudo jamais experimentado pelo cérebro, de forma que é improvável que estas sejam contidas pela força de vontade, não importa o quanto forem formidáveis. Os laboratórios têm tido sucesso admirável, produzindo alimentos que contenham substâncias que realmente manipulam nosso futuro comportamento alimentar.

A ciência é neutra; como ela é usada – e quem faz uso dela – é que determina seu impacto. Não há nada ilegal no fato de os fabricantes de alimentos pagarem psicólogos para estudar o comportamento humano de consumidor, e é justo como qualquer outra coisa no amor ou na guerra, mas esse uso da ciência pela indústria alimentícia, decididamente, tem sido unilateral. Até agora.

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