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A gestão da própria vida

DVS, DVS Editora, Blog do Editor, Cláudio Queiroz, CompetênciaCharles Handy (2001) afirma que a verdadeira revolução social é a mudança de uma vida amplamente organizada para nós para um mundo no qual somos todos forçados a estar no comando de nosso próprio destino. Dutra (2004) traz uma reflexão sobre a dificuldade que as pessoas têm em pensar em sua carreira e assumir a gestão do próprio desenvolvimento. Dificuldades a parte, o que não se pode perder de vista é que a gestão da carreira profissional é algo indelegável e sua eficaz construção determina o nível que o indivíduo alcançará na escala evolutiva.

Por Cláudio Queiroz.

Da mesma forma que uma empresa faz seu planejamento estratégico, cabe ao indivíduo construir  sua missão, visão e objetivos, identificando suas forças, fraquezas, ameaças e oportunidades, montando em seguida sua estratégia e plano de auto-desenvolvimento.

Abaixo apresento as etapas de um plano de auto-desenvolvimento.

Primeira etapa: auto-análise

Pergunte-se: Quais são as minhas competências? Qual é o meu talento? Qual é o meu diferencial? Quais são os meus pontos fortes?

Mas como saber em que sou competente?

Vejamos algumas dicas:

Você geralmente é elogiado e reconhecido pelos colegas e amigos quando faz algo?

Você sente um prazer imenso em realizar atividades em que sua competência é utilizada e nem sente o tempo passar?

Você sente prazer em estudar e se aprofundar sobre esta competência?

Você percebe se confunde trabalho e lazer quando realiza algo que envolve esta competência?

Segunda etapa: oportunidades e ameaças

O que são oportunidades e ameaças?

São situações, acontecimentos ou fatos, favoráveis ou não a um grupo de indivíduos que apresentam ou não determinada competência.

Terceira etapa: objetivos e metas

Depois de definidos o diferencial, a competência e a oportunidade, a próxima etapa é decidir o que se quer. A definição de objetivos tem uma relação direta com a palavra FOCO. Quem não tem foco, gasta tempo e energia com atividades e ações que não auxiliam a alcançar êxito.

O mundo tem tantos atrativos e pressões, que se não tivermos muito cuidado, nos desviamos de nossos objetivos a todo o momento. No mundo organizacional chamo isto de “iscas”. São promoções ou atividades que farão você perder tempo, não agregando conhecimento ou habilidades necessárias ao seu intento. Estratégia exige a coragem de dizer não.

A palavra disciplina é muito mal vista no Brasil, por ser associada a autoritarismo ou ditadura. Muito pelo contrário, a disciplina é fundamental para aqueles que desejam chegar a um objetivo. Quem não tem disciplina, descansa demais, é muito condescendente com os próprios pontos fracos e, geralmente, não caminha em direção dos seus objetivos com a mesma intensidade que caracteriza os vencedores.

Qual a diferença entre metas e objetivos?

Um conjunto de metas alcançadas nos permite atingir um objetivo.

Um exemplo de objetivo: ter uma vida saudável; a meta é tomar dois litros de água por dia, realizar atividades físicas diariamente, não tomar sol sem protetor solar, etc.

Como definir os objetivos?

Exercício prático: Pegue uma folha de cartolina e pense no futuro. Policie-se para não pensar nas dificuldades ou problemas que o preocupam no presente, então:

a) Defina o que espera ser e ter daqui a 10 anos. Coisas do tipo: onde quero morar, com quem quero viver, quantos filhos desejo ter, que posição na empresa desejo ocupar, que papel desejo ocupar na sociedade, que realizações espero implementar ou ter implementado.

b) Volte para o presente mentalmente e faça o seguinte questionamento: Fazendo o que estou fazendo em minha vida pessoal e profissional hoje, chegarei onde estabeleci no item anterior?

c) Se a resposta for sim, continue fazendo o que faz e seja feliz. Se a resposta for não, provavelmente seja necessário rever o seu gráfico existencial. Se você deseja chegar ao ponto (b) e está no ponto (a) e se caminhando em linha reta não chegará lá, certamente precisará subir alguns degraus, que chamo de pontos de ruptura ou de descontinuidade. Ponto de ruptura ou de descontinuidade são modificações ou alterações que devem ser feitas para o alcance de objetivos, tais como: mudar de estado, de residência, casar, fazer um curso, aperfeiçoar-se, adquirir novas competências, aprender um idioma, passar uns tempos fora do país, etc.

Se você avaliar que não está disposto a fazer esforços ou mudar para superar os pontos de ruptura, sugiro retornar ao item (a) para que reveja seus objetivos.

Lembro que objetivos mudam também em função dos acontecimentos que estão fora de nosso controle. Neste caso retorne ao item (a) e refaça seus planos. É o que chamamos em administração de “Plano de Contingências”.

O comportamento oposto é deixar “a vida me levar”, tornando-se um ser passivo e refém dos acontecimentos.

Uma dica é não exagerar na quantidade de objetivos, pois quem tem cem com “c” pode ficar sem com “s”. Cuidado também para não ancorar toda sua existência em um único sonho e perder a oportunidade de concretizar outros. Os objetivos devem ser específicos, mensuráveis, realizáveis e ter um prazo para consecução.

Quarta etapa: formulação das estratégias.

“Os campeões sempre têm uma estratégia para realizar seus sonhos e não tê-la é aprender com os erros, e às vezes o preço é muito alto” (Roberto Shinyashiki, em Os Segredos dos Campeões).

Tão importante quanto definir o que se quer para a própria vida, é planejar como se espera alcançar estes desafios.

Neste momento identificamos qual o melhor caminho para chegar ao objetivo. Vale ressaltar que cada caminhante tem um estilo pessoal. Tem gente que adora estradas planas, outros gostam de curvas perigosas, outros se realizam com uma ladeira, pois é a personalidade e o estilo de vida que definem o “como”.

É fundamental também listar a relação de parceiros ou colaboradores que podem nos auxiliar nesta caminhada. Surge aqui, uma palavra muito citada no mundo contemporâneo: networking.

Alerto para a importância da família na definição do “como”. Pois, você pode criar sonhos sozinhos, mas precisará dos outros para torná-lo realidade.

Esta é uma etapa em que nossos valores definem nossa velocidade e os desvios que estamos dispostos a fazer.

“Um ser humano precisa de poucos, mas tem que honrá-los, são seus valores”, afirmou certa vez, o professor Dr. Reynaldo Marcondes.

Ainda nesta mesma dimensão é relevante deixar registrado que crenças e valores podem ter uma dimensão propulsora ou restritiva. Sendo restritiva faz-se necessário revê-los e esta tarefa, em muitos casos, não é fácil.

Charles de Gaulle afirmou: “as distâncias maiores que deveremos percorrer estão dentro de nós mesmos”.

Quinta etapa: implementação das estratégias

“Tem uma hora que você tem que tirar do papel e executar”
(Amir Clink)

Esta é a etapa que distingue os vitoriosos dos demais. Fazer planos maravilhosos, embora não seja algo tão fácil, é mais comum se efetivar, entretanto, por em prática exige foco, disciplina e competência, como já citado.

Um problema muito comum é quando a pessoa desiste dos seus objetivos ao se deparar com as primeiras dificuldades, principalmente quando não se formulou uma estratégia de forma adequada. Costuma-se dizer que é mais fácil encontrar pessoas que desistiram que pessoas que não obtiveram êxito. Os que assim o fazem, geralmente procuram um culpado para se justificar ou se sentir melhor emocionalmente.

Os tradicionais culpados escolhidos são coincidentemente itens que começam com a letra P:  pais, professores, patrões, política do governo, parentes e o país.

Sexta etapa: controle

“É preciso ouvir e entender as estrelas”
(Olavo Bilac)

O controle é o velocímetro que sinaliza ou monitora o quanto se está próximo ou distante dos objetivos traçados e permite fazer as adequações necessárias.

Muitas vezes as pessoas esperam alcançar seus objetivos para festejar. Eu aconselho uma comemoração a cada meta alcançada.

Vale lembrar o segredo oriental: a felicidade também tem a ver com a jornada. Podemos e devemos sentir prazer e felicidade em fazer algo que nos aproxima de nossos objetivos.

Ler os sinais que o universo nos envia, possibilita-nos descobrir antecipadamente quantos buracos existem ao longo da estrada.

A gestão financeira da existência precisa ser gerenciada. Ao definir nossos objetivos, é preciso montar e gerenciar as receitas e despesas.

Quem gasta mais do que ganha, sempre ganha pouco, independente do valor recebido.

 

A arte inspira-nos a desenvolver as atitudes e consequentemente as competências. Neste intuito listei algumas pintura que podem auxiliar neste encontro.

Dance, de Henri Matisse.

A Persistência da hora, de Salvador Dali.

A Paz descendo sobre a terra, por Delaccroix.

Guernica, de Pablo Picasso.

Les Sabines, de Louis David.

O Grito, de Edvard Munch.

Cláudio Queiroz é professor de pós-graduação e MBA da FAAP, e autor do livro As Competências das Pessoas. Potencializando seus Talentos. (DVS Editora). A obra aborda as dezesseis principais competências pessoais no ambiente organizacionalfazendo uma sintética descrição da importância delas no mundo corporativo e apresenta o conceito, os conhecimentos, as habilidades, as atitudes, os comportamentos de entrega, a bibliografia básica e os filmes que ilustram a manifestação da competência em questão. A obra disponibiliza também um roteiro para o autodiagnóstico e a construção de um plano individual de desenvolvimento e ainda uma relação de músicas e obras de arte que podem funcionar como fontes de inspiração para o crescimento.