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“Inside Job”, muito além de um documentário, uma aula de economia

 

Vencedor do último Oscar como melhor documentário em longa metragem, o filme conduzido pelo diretor Charles Ferguson, vasculha as entranhas de wall street na fase que antecedeu a crise de 2008, com uma lucidez implacável, elucidando as origens do maior tsunami financeiro desde a crise de 1929.

Por Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial e membro do conselho editorial da DVS Editora.

Aponta a origem do caos, quando as leis que impediam a execução sob o mesmo teto institucional das atividades de investimentos e banco comercial passaram a ser desrespeitadas, em um primeiro momento, para em seguida, serem simplesmente deixadas de lado.

Traz à tona fatos assombrosos, como a existência de um único colaborador da SEC (isso mesmo, uma única pessoa) responsável por toda a gestão e fiscalização de exposição ao risco do mercado financeiro norte-americano.

Mostra também as medidas desastrosas do FED (Federal Reserve Bank), sustentadas e potencializadas por uma condução governamental perigosa para a sustentabilidade econômica, num caldeirão com boas doses de corrupção, vista grossa e irresponsabilidade.

Mas para a observação deste que vos escreve, a parte mais interessante é justamente aquela que aborda o componente comportamental dos executivos e operadores do setor. Tomados por uma falsa sensação de intocabilidade, de propriedade absoluta de poder e inviolabilidade, construíram uma cultura de excessos e insensibilidade crônica, onde, segundo o diretor do filme, havia e ainda há, a participação explosiva dos elementos drogas e prostituição em larga escala. Uma alquimia que ao contrário das fábulas, não produziu ouro, mas tragédias econômicas, desespero, e como resultado final, a patinação do maior motor da economia mundial.

No entanto, frustrando as otimistas expectativas de que o caos vivenciado a partir de setembro de 2008, traria um inevitável ajuste e amadurecimento, no qual voltariam a vigorar um pouco mais de prudência e o renascimento da importância da liquidez e da poupança, observamos a letargia, a férrea manutenção do status quo, a infantil crença na capacidade americana de vencer desafios e superar obstáculos. A eterna autoajuda corporativa cegando a realidade.

Caros leitores, fiquem à vontade para discordar ou me criticar, de fato não consumo o lero, lero corporativo, e portanto não busco ser o dono da verdade e muito menos venero o otimismo ou o pessimismo, mas cultuo o realismo e o senso crítico, e é por isso mesmo que faço uma confissão: observando a terra de Lincoln, das famílias Kennedy e Bush, não consigo evitar paralelos com o nosso Brasil. Me assombro com a euforia exagerada, com a crescente cultura do crédito excessivo (mesmo que por anos tenha sido tão escasso), com a permanente crítica ao ato de poupar, com a sensação observada em esclarecidos ambientes de que “agora ninguém nos segura”.

A película pode ser encontrada em qualquer boa locadora, e no Brasil foi lançada como “Trabalho Interno”. Recomendo que não deixem de assistir, mas independentemente dos novos entendimentos que ele pode provocar, permaneço rezando para a santa CVM, sem esquecer de acender uma velinha para o padroeiro BC e sua equipe de arcanjos.

Um bom filme a todos, e até o próximo.

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