Por: Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial e membro do conselho editorial da DVS Editora.
Caros leitores, desta vez um pouco do “mundo corporativo”, suas aventuras e desventuras. Ao longo da minha vida profissional, tive o privilégio de vivenciar uma boa diversidade de experiências e situações. Não faltaram fusões, aquisições, agudas reestruturações organizacionais, e alguns naufrágios. Ricas passagens, de onde acredito que o maior aprendizado (sem desmerecer o técnico e metodológico), de longe, foi e continua sendo, originado na oportunidade de observar a complexidade do impacto humano nas organizações.
Trata-se de algo multifacetado, que teima em desafiar modelos preestabelecidos e a própria lógica, seja ela natural, ou convenientemente fabricada. Uma conjugação que nasce das vivências individuais de cada participante do “jogo”, forjando crenças, ilusões e certezas absolutas, ou quem sabe, certeza sobre nada.
É juntamente por isso, creio eu, que determinada prática ou método naturalmente aceito em uma determinada empresa, em um determinado setor, é impensável ou “fora de cogitação” em outra empresa, muitas vezes do mesmo segmento.
No entanto, seja olhando a minha trajetória pelo retrovisor, ou observando o momento atual, sempre me deparo com um típico indivíduo presente em quase todas as situações. Ele se incorpora em diferentes pessoas, independentemente da experiência profissional, formação técnica, ou posição hierárquica. Trata-se do dissidente. Demonizado, injustiçado e preterido pela insana cultura do “yes man” ou do “tudo é possível se você acreditar”, esse sujeito é vítima das mais vigorosas perseguições corporativas. Ele é o obstáculo, a “pedra no sapato” o “cara do contra”.
Naturalmente, muitas vezes é fonte geradora de inúmeros problemas, porém, em outras ocasiões, traz salvação, lucidez, e uma visão pé no chão – e de longo alcance por meio do seu ceticismo saudável – dos acontecimentos.
O fato, leitores, é que cada vez mais noto que muitas lideranças detestam dissidências ou críticos habilitados e corajosos – para alguns espíritos corporativos mais desprovidas de auto confiança, audácia e coragem são o equivalente a xingar a mãe. Para estes profissionais, não é nada fácil conviver com “essa gente resistente” com voz crítica que resiste aos absurdos, ao impossível, à insensatez , e se recusa a trabalhar de joelhos para manter o emprego.
Contudo, não é fácil ser um dissidente dias de hoje. Para se proteger, precisam de disfarces durante os eventos e congressos – muitas vezes de teor disfarçadamente técnico – mas na verdade de forte cunho motivacional ou comportamental barato, tão comuns ao dia a dia do executivo padrão. Precisam ingerir doses e doses de paciência e fundamentar com precisão os seus argumentos, encarando a solidão de quem é possuidor de convicções próprias e ainda lidar com o fato de eventualmente serem preteridos – ao menos por algum tempo – na cena corporativa.
Mas sabem que ao final do capítulo serão na maioria das vezes recompensados, ou em último caso poderão puxar o carro e partir para outra experiência corporativa onde inteligência e lucidez contam pontos. Por tudo isso, tenho que admitir: gosto desses “resistentes”, da sua força para dizer não quando a maioria diz sim, de sua capacidade em criticar o que deve ser criticado, navegando contra a maré, enfrentando o conjunto, o grupo, o status quo, de assumir o pessimismo quando ele fizer sentido.
Profissionais que desejam destaque genuíno, e longa vida profissional, precisam entender que não se submeter ao curso corrente das águas ajuda a manter a sanidade, a se olhar no espelho com mais orgulho, a preservar a integridade de suas capacidades e com isso a sua própria empregabilidade futura.
Façamos justiça, muitas vezes dizer não, evita tragédias anunciadas, protege reputações (algumas empresas envolvidas no “petrolão” adorariam poder contar com um bom dissidente) e bons fluxos de caixa.
Até o próximo.