Por Vince Poscente.
Reflita no que aprendemos quando nos são ensinados os fundamentos básicos do certo e errado, prudente e imprudente. Embora a velocidade seja vital para o sucesso e contribua no século XXI para as grandes realizações, a rapidez poucas vezes é retratada como atitude nobre, responsável ou inteligente. Muitas vezes, é caracterizada como atitude negligente, rebelde e impaciente. Querer tudo rápido significa querer compensação imediata, e a compensação imediata muitas vezes é considerada imatura e irresponsável, até mesmo moralmente errada. Ela é comparada à impaciência, curto período de atenção e atitudes infantis mimadas.
rápido ≠ irresponsável
Mesmo a aparentemente inocente fábula de Esopo A Tartaruga e a Lebre aborda sutilmente o potencial destrutivo da velocidade. Esta é interpretação mais comum da moral da história: “Devagar se vai ao longe”, com ênfase à confiabilidade da lentidão. Mas assim como muitos dos nossos julgamentos sociais da velocidade, a mensagem principal de A Tartaruga e a Lebre está distorcida. “Devagar se vai ao longe” é uma afirmação falsa baseada numa interpretação bem limitada do enredo da história.
Pense melhor: uma tartaruga e uma lebre concordam em disputar uma corrida, e a lebre sai em disparada correndo o mais rápido possível, deixando a tartaruga comendo poeira. (Por que será que a tartaruga acha uma boa idéia competir contra a lebre, afinal?) Mas a lebre tem tanta certeza de que a tartaruga não consegue alcançá-la que ela pára para fazer uma boquinha e dar um cochilo no gramado sem preocupar-se em realmente terminar a corrida. Quando acorda, dispara em direção à linha de chegada. Mas assim que atravessa a linha, convencida e certa da sua vitória, encontra a tartaruga do outro lado, pacientemente esperando a sua chegada.
A lebre não perde por ser rápida – a velocidade não atuou contra ela de maneira nenhuma. E a tartaruga não vence por ser lenta. A lebre perde por ter feito uma escolha ridícula de como gastar o tempo dela, por ser irresponsável e arrogante o suficiente para cantar vitória antes de terminar a corrida. E a tartaruga vence por ser valente o suficiente para participar da corrida quando a sua probabilidade de vencer era ínfima, e persistente o suficiente para dar o máximo de si, visando alcançar a linha de chegada sem desistir ou desviar-se do foco.
O papel da velocidade na fábula é exagerar a lição; é o de ilustrar que mesmo com uma radical vantagem natural – no caso da lebre, a velocidade – o detentor da mesma, deve manter-se focado e evitar subestimar o concorrente, para poder vencer. Por outro lado, qualquer um pode conseguir vencer uma corrida mesmo não sendo o favorito se for humilde, corajoso, determinado e centrado no seu objetivo. Não faltou velocidade na derrota da lebre, e a lentidão certamente não foi fator determinante na vitória da tartaruga. No entanto, para gerações de leitores e ouvintes passou-se a idéia de lentidão como atitude inteligente e de rapidez como atitude irresponsável.
É verdade que a capacidade de adiar a recompensa seria um dos sinais de maturidade no desenvolvimento da criança. Mas com a capacidade de adiar a recompensa dominada quando necessário, por que devemos adiá-la por princípio, sem qualquer vantagem extra? E, embora em algumas situações nos beneficiemos com o adiamento da recompensa (discutido mais adiante), não há necessidade de descartá-la automaticamente como algo irresponsável ou imaturo. Por que acreditamos ser tão nobre esperar por nossa recompensa? O impulso “infantil” de ter o que queremos quando queremos realmente não é diferente da relutância em usar o correio eletrônico em lugar do convencional mais lento, em tomar o trem bala em vez do tradicional mais lento, e em ir direto ao ponto em vez de ficar rodeando.
Mas as lições que nos ensinaram são confusas. Para cada história como A Tartaruga e a Lebre, para cada citação expressiva vilipendiando a velocidade (“A pressa é inimiga da perfeição”, “Roma não foi construída em um dia”), parece haver outro aforismo, outra lição a glorificando ou encorajando (“Melhor prevenir que remediar”, “Cochilou, o cachimbo cai”). E, enquanto alguns aspectos da velocidade nos faz instintivamente recuar, outros nos atraem muito.
Esclarecendo a noção de que no mundo de hoje precisamos desacelerar, Poscente elucida por que a exploração do poder da velocidade seria a solução definitiva para aqueles que buscam menos estresse, menos ocupação e mais equilíbrio. A Era da Velocidade mostra isso e outras revelações pioneiras em ação com estudos de casos baseados em companhias renegadas, como a Netflix, Geico e Nintendo. Repleto de visões inusitadas e pesquisas incitantes avivadas pela voz de um contador de histórias, A Era da Velocidade é uma leitura divertida e rápida que modificará a sua visão e ainda permanecerá na sua mente muito depois de terminada a última página.