Plataforma Brasil

Brasil: a evaporação da iniciativa privada

Por: Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial e membro do conselho editorial da DVS Editora.

Caro leitor, hoje começarei o texto me desculpando pelo eventual alarmismo que o título provoca. Entendo se decidir parar a leitura por aqui, levar susto realmente não é nada agradável. Compreendo isso. Porém, caso deseje entender o motivo pelo qual adotei, propositadamente, expressão tão impactante, faço um convite para que me acompanhe até o final, e depois fique a vontade para julgar o conteúdo com todo rigor.

Da mesma forma, devo confessar que foi justamente por conta de um susto assim, mas neste caso baseado em fato concreto, que decidi abordar o tema desta maneira.

Na verdade, tratou-se daquilo que denomino como susto econômico. E não se engane, não abordarei por enquanto o recente processo de IPO do Facebook, considerado por um jornalista do The New York Times, como a mais confusa, conturbada e decepcionante oferta pública inicial de ações dos últimos 30 anos. Não leitor, o arrepio que senti veio de terras pátrias, precisamente de um estudo divulgado por uma instituição séria e respeitada, o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário). Nele consta-se que apenas ao final de maio deste ano ocorrerá a nossa libertação tributária anual, ou seja, será apenas a partir deste momento que passaremos a trabalhar exclusivamente em prol de nosso legítimo benefício.

O fato, caro leitor, é que ao longo dos últimos cinco meses inteiros – aproximadamente 42% do ano – trabalhamos apenas para honrar os nossos compromissos com a sanha arrecadadora federal, estadual e municipal. Uma alegria sem fim.

Neste contexto, vale uma comparação com outros povos: Os suecos estão na liderança (nós só perdemos para eles), estes trabalham por mais de 6 meses para honrar suas obrigações fiscais. Os franceses estão praticamente empatados conosco trabalhando o mesmo período para dar conta de seus tributos. Os americanos, chilenos e mexicanos trabalham pouco mais que três meses, os espanhóis quatro meses e meio, enquanto que os argentinos atingem três meses e meio trabalhando para bancar sua estrutura estatal.

Mas a questão que surge, é justamente sobre a qualidade do retorno da nossa máquina pública, com os 150 dias que trabalhamos para “investir” R$600 bilhões, a partir de setores de sua responsabilidade, tais como: segurança (onde detém monopólio absoluto), educação, saúde, saneamento básico e infraestrutura de uma maneira geral. Bem, a resposta é conhecida, tal qual sua resultante.

O assustador é que pelo andar da carruagem, no próximo ano, teremos que trabalhar por mais tempo ainda para honrar com nossos impostos. Em 1970 foram aproximadamente dois meses e meio, e desde então a carga não para de crescer. Com essa escalada e gastando em dobro para obtermos aquilo que deveria retornar com o que já foi investido, não seria tão exagerado assim imaginar que sem um basta nacional, nos transformaremos no futuro em uma economia semi-estatal, onde o privado pouco a pouco se dilui e vai ficando apenas de mentirinha.

Imposto

Evidentemente reconheço o desenvolvimento dos últimos anos – se bem que muito impulsionado por um forte conceito de capitalismo de estado – mas o ponto que não pode sumir do nosso radar, é o custo das oportunidades perdidas, do tempo que passou. O ônus permanente de um progresso que custa a chegar, de verdade, e que quando chega, gera imediatamente uma série de efeitos colaterais, tais como a ameaça inflacionária que sempre ressurge quando o PIB ultrapassa a marca dos 4% ou 5%.

A minha grande esperança ou utopia é de a partir daqui quando começa a nossa alforria fiscal, dados espantosos como estes (considerando nosso contexto em particular) sirvam para abrir os olhos da imensa e corajosa classe de empreendedores e geradores de riqueza desse país varonil, resultando quem sabe em um mínimo de engajamento, que não seja nos eternos lugares comuns sempre nos instigando a resolver todas as mazelas sociais independentemente de tudo o que já pagamos obrigatoriamente, mas mobilizados para construirmos um futuro de sociedade próspera, economicamente sustentável, efetivamente livre, credora de seus direitos e forte o suficiente para competir.

E por falar em alforria, encerro o texto com a frase de um herói brasileiro na luta pelo fim da escravidão, Joaquim Nabuco “Há máquinas de felicidade dispendiosas, que funcionam com enorme desperdício, e há outras econômicas que, com as migalhas da sorte, criam alegria para uma existência inteira”.
Boa sorte a todos nós.

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