É comum escutarmos a expressão relacionamento interpessoal, entretanto é raro vermos o emprego correto desse conceito. Saiba identificar algumas atitudes necessárias para a manifestação eficaz desta competência.
Por Cláudio Queiroz.
Relacionamento intrapessoal é a integração do autoconhecimento, autodomínio e automotivação. Este relacionamento somado ao relacionamento interpessoal resulta no conceito de inteligência emocional divulgado pelo trabalho de Daniel Goleman (1995).
O relacionamento intrapessoal é a “base” do interpessoal. Citações de Sócrates e Sun Tzu, datadas há mais de 2000 anos, dentre muitas outras, apontam a necessidade da competência relacionamento intrapessoal.
“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”.
Sun Tzu, no livro A Arte da Guerra.
É possível identificar algumas atitudes necessárias para a manifestação eficaz da competência relacionamento interpessoal, tais como:
→ Humildade – Para se perceber incompleto ou em processo de desenvolvimento permanente.
→ Persistência – Vontade de prosseguir rumo aos objetivos, apesar do cansaço, intempéries, dificuldades de qualquer natureza etc.
→ Resiliência – Capacidade de recomeçar ou prosseguir em direção aos objetivos, o mais breve possível, após os infortúnios, quedas, erros etc.
→ Disciplina – Firmeza de propósito em relação aos objetivos, lembrando que “tudo que nos tira do foco é distração”.
→ Flexibilidade – Para enxergar possibilidades “diferentes”; capacidade de se adaptar em situações desconhecidas ou inesperadas.
→ Iniciativa – Capacidade de ser o primeiro a tomar decisões de forma proativa e não reativa.
→ Motivação – Identificar “seus motivos existenciais nos aspectos pessoais e profissionais” (ideais, sonhos e desejos) que potencializem sua vontade e inspiração para se “automotivar” (a motivação sempre é interna).
Novamente nos reportando ao Oriente, cita-se que: os japoneses conheciam três poderes: “O poder da espada, o poder da joia e o poder do espelho”. A espada simbolizando o poder das armas, a joia representando o poder do dinheiro e o espelho significando o poder do autoconhecimento.
Isso deixa claro que desde remotas eras já existia uma sinalização da importância do homem se conhecer. O autoconhecimento favorece o indivíduo a ter consciência de suas emoções, facilita-lhe o autodomínio e explicita o sentido de sua vida, o que potencializa a “automotivação”.
Em que pese todas essas questões, no Ocidente é comum as pessoas se envolverem no redemoinho do dia a dia e raramente ou nunca “param” para refletir ou pensar sobre si mesmas, e se autoquestionam:
→ Quais meus pontos fortes?
→ Quais meus pontos fracos (que dificultam o alcance dos meus objetivos)?
→ Quais meus talentos (que potencializam meu sucesso)?
→ Quais meus medos (que me fragilizam)?
→ Que competências tenho ou preciso desenvolver?
→ Que atitudes apresento que favorecem ou dificultam meu sucesso?
→ Que habilidades tenho ou preciso desenvolver?
→ Quais meus sonhos?
Para alguns, esta “parada” somente ocorre nos momentos de dor, por exemplo, quando alguém é “demitido”. Demitido não somente de um emprego, mas das relações de uma forma geral: quando um amor os “disponibiliza para o mercado”, quando colegas ou amigos não desejam sua companhia, ou mesmo quando parentes não o convidam para encontros ou confraternizações.
Existe ainda, um preconceito muito grande em relação a procurar a colaboração de profissionais de apoio para “tratar” ou desenvolver estratégias de ação para questões emocionais, pois no plano de desenvolvimento dos indivíduos e até de muitas empresas, se privilegia somente a competência técnica.
Um contraponto à questão acima surge quando se percebe em algumas empresas, uma reflexão sobre conceito de “empregado bom”.
No passado, “o bom” era o colaborador obediente e disciplinado. Depois, o empregado que apresentasse resultados, independente dos métodos. Hoje, a manifestação das competências “orientação a resultados e ao cliente” não são os “únicos” itens que caracterizam um bom desempenho, pelo menos para as empresas que já iniciaram o processo acima citado.
Um segredo, se é que existe um segredo, é se conhecer mais. Os caminhos são muitos. A vida nos presenteia com experiências que favorecem este aprimoramento.
Algumas experiências que auxiliam no autoconhecimento
Aconselhamento, mentoria, tutoria, coaching; utilização de ferramentas de autopercepção (DISC, MBTI, Gallup etc.); troca de experiências com amigos e colegas; participação em atividades artísticas (música, pintura, cinema, teatro); participação em atividades comportamentais ou de sensibilização; feedback de avaliação de desempenho; conversa aberta e honesta com colegas de trabalho e gestores; conhecer outras culturas (viagens, intercâmbio internacional, acesso a informações pela Internet, amigos de outros países); eventos existenciais (nascimento de um filho, morte de pessoa querida, casamento, separação, encontro religioso etc.); observação de um exemplo positivo de uma pessoa que admiramos; job rotation; leitura de livros, revistas e textos; participação cursos de graduação e pós-graduação; participação em atividades de responsabilidade social; participação em grupos de trabalho na empresa; participação em processos seletivos (interno e externo); participação em reuniões de confrontação ou resolução de conflitos; participação em reuniões estratégicas; viver um período sabático; substituir as chefias nos momentos de ausências; terapia ou psicoterapia; participar na tomada de decisão de forma compartilhada; trabalhar em empresas e áreas diferentes; e realizar viagens nacionais e internacionais.
É fundamental deixar registrado que o desenvolvimento da competência relacionamento intrapessoal é uma decisão individual e cada um segue seu caminho conforme sua vontade e disposição para arcar com suas escolhas, pois “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
Entretanto, não podemos perder de vista que estamos em meio a uma crise, e nos momentos de maremoto é que se conhecem os grandes mestres dos mares. As empresas estão mais focadas em revisão de processos, de projetos e de produtos, e quem tiver a competência relacionamento intrapessoal poderá mais facilmente encontrar caminhos e estratégias que auxiliem as empresas e facilitem sua empregabilidade.
Independente de crise, as empresas e as pessoas estão mais atentas a um item na pauta do setor de recursos humanos (RH) que é clima organizacional. Gente que tem a competência relacionamento intrapessoal e ocupa uma posição de gestor, potencializa os resultados e favorece o estabelecimento de um “bom” clima na empresa. Portanto, esta competência é uma vantagem competitiva dos profissionais de sucesso. Eis algumas perguntas:
→ Quem não conhece um colega de trabalho “tecnicamente” perfeito, mas que ninguém quer trabalhar com ele, por conta dos seus famosos “gritos” e momentos de desequilíbrio emocional?
→ Você indicaria esta pessoa para alguma empresa?
→ Você o convidaria para sua área?