Por: Carlos Jenezi, empresário, consultor e colaborador da Plataforma Brasil Editorial
Após algumas semanas do fim das eleições americanas podemos avaliar com calma o resultado do pleito para escolha do presidente americano dos próximos quatro anos. A história recente das eleições mundo afora nos mostra que o desenvolvimento econômico tem sido o fiel da balança na escolha dos mandatários do poder executivo nas últimas décadas. Foi assim com a eleição de Bill Clinton sobre Bush pai em 1992 (mesmo após a vitória “republicana” na Guerra do Golfo) passando pela reeleição do próprio Clinton quatro anos depois (apesar do inimaginável caso Monica Lewinski) e chegando finalmente no Brasil, com a reeleição de Lula e a eleição de Dilma (apesar do escândalo do mensalão).
As eleições citadas nos mostram que, acima de qualquer outra questão, o que pesa mesmo na cabeça da população na hora de escolher seus presidentes é o dinheiro no bolso, no caso, o próprio. Não nos julguemos por isso. Segurança e soberania nacional, política externa, inclinações para esquerda ou direita, liberalismo ou socialismo são conceitos para políticos, não para o povo. O que explica então a reeleição de Obama para a Casa Branca, considerando que a economia americana ainda vive seus piores dias desde a Grande Depressão?
James Carville não estava errado quando escreveu a famosa frase “É a economia, estúpido!” durante as eleições presidenciais americanas de 1992, explicando porque Clinton ganharia de Bush. Conclusões apressadas poderiam dizer que a escolha óbvia para recuperar a cambaleante economia americana seria Mitt Romney, empresário bem sucedido, milionário, símbolo de tudo o que todo norte-americano quer ser. E é justamente nessa pseudo-verdade que o êxito de Obama se explica, afinal, o que é ser americano hoje em dia?
Barack Obama venceu prometendo, sobretudo, melhorar na economia. Martelou incessantemente que a solução para a estagnação econômica era a geração de “bons” empregos para classe média nos EUA. Salvo diferenças ideológicas sobre a forma de gerar tais empregos, era basicamente a mesma proposta de Romney. Obama, no entanto, percebeu que os EUA não eram mais somente a antiga classe média branca, protestante e conservadora. Barack Obama teve a percepção que seu país, ele talvez como símbolo maior, é também amarelo, negro, hispânico, gay, muçulmano, sem deixar de ser americano (ele obteve nada menos que três de cada quatro votos latinos!). Barack Obama mostrou, além de inteligência e visão estratégica, ter visão de futuro e sensibilidade para os novos rumos do país e desejo de seu povo, o que provavelmente explica acima de tudo a sua vitória.
Usando como exemplo o caso americano e traçando um paralelo para a política nacional (e nossas recentes eleições municipais), percebemos que a mesma lógica se repete: os políticos que souberam enxergar a nova realidade econômica brasileira, com as nuances dessa nova classe média, saíram vitoriosos e aqueles que insistiram nas velhas fórmulas e discursos estão menores e enfraquecidos.
Políticos do mundo todo e aqui do Brasil devem analisar a eleição americana como uma amostra do que está por vir e uma importante lição aprendida. A política moderna exigirá políticos e partidos que olhem para frente, abandonando antigas verdades e enxergando a nova realidade de transformações que já se iniciou.
Carville nunca esteve tão certo, mas se fosse hoje, talvez mudasse sua frase para “es la economia, boludo!”