Por: Cláudia Martinelli, especialista em economia sustentável, e articulista da Plataforma Brasil Editorial
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” – Eduardo Galeano
Quando se fala em sustentabilidade, especialmente nos meios pouco afeiçoados ao assunto, parece que estamos falando sobre algo completamente fora da realidade ou apenas sobre uma maquiagem para os negócios. Pouco se entende que a sustentabilidade é um conceito que deve permear o dia-a-dia da empresa e dos indivíduos e que tem como base conceitos antigos, importantes e ainda mal aplicados como cidadania, ética e eficiência.
Ao analisarmos de perto, a sustentabilidade, apesar do nome novo, tem como base dois conceitos muito antigos: a ética e os direitos humanos. Desses conceitos, derivam-se o compliance e a governança corporativa que, resumindo, são as normas de conduta para a empresa agir de forma economicamente sustentável e minimamente responsável com a sociedade. Eis um ponto muito importante aqui: se a instituição não cumpre as regulamentações e normas vigentes, ela não pode ser considerada sustentável, independentemente do porte das ações que ela afirma efetivar em sua comunicação institucional.
Então, você pensa, se a empresa cumprir todas as normas, ela já pode ser considerada sustentável? Não. Se a organização cumpre as normas, ela está apenas fazendo a sua obrigação (que, aqui no Brasil, já se caracteriza por um processo bastante árduo, principalmente para as empresas de menor porte). Para buscar a sustentabilidade, a instituição tem que ir além das normas vigentes, ela tem que buscar compromissos que tenham um papel ativo na melhoria do meio em que ela está inserida.
Aqui, eu gostaria de destacar um detalhe bastante importante: uma organização nunca será absolutamente sustentável (assim como um indivíduo também não será), pois ela sempre causará algum impacto no seu meio. No entanto, as empresas (e as pessoas) podem buscar a sustentabilidade e, com isso, contribuírem com a melhoria da sociedade e do ambiente. Para mim, a ideia da sustentabilidade é a ideia da utopia de Galeano, serve para irmos em frente.
Como falei no começo do texto, a sustentabilidade é um conceito que deve permear o dia-a-dia e, consequentemente, a estratégia da empresa. Um jeito simples de pensar em como aplicá-la é fazer o seguinte questionamento: “como minimizar as externalidades da empresa?”. Além de ser uma decisão estratégica, ela também abre um enorme leque de oportunidades de negócios e de inovação.
Sei que as empresas no Brasil tem que lidar com excesso de questões burocráticas e forte tributação que muitas vezes limitam seu crescimento e sua capacidade de atuação. Mas isso acontece com todas as empresas. O que precisamos é começar a entender as vantagens trazidas pela sustentabilidade e buscarmos uma legislação que entenda o benefício econômico, social e ambiental que as organizações que a possuem em sua estratégia fornecem à sociedade.
A minha ideia é que, nos próximos textos, possamos aprofundar as formas de usar a sustentabilidade estrategicamente, quais os novos modelos de negócios e inovações que surgiram a partir dessa ideia e quais os empecilhos e dificuldades que fazem as empresas ficarem receosas em adotar a sustentabilidade em seu core business.