Por: Gustavo Chierighini, publisher da Plataforma Brasil Editorial e membro dos conselhos editoriais da DVS Editora e da Revista Criática.
Meus caros, já é antiga, e cansativa, a retórica que envolve os conflitos de gerações na condução dos negócios e da vida empreendedora. Repleta de chavões e clichês, ela embala uma ruptura de diálogo perigosa, potencializando preconceitos, desconhecimento e fatalmente emitindo uma mensagem subliminar (por vezes explícita) desmerecendo gerações compostas por profissionais mais maduros.
Desconectada da realidade e míope na mínima observação cotidiana, pois desconhece exemplos de prodígios sempre presentes em todas as gerações, com muitos remanescentes ainda bem ativos com mais de sete décadas bem vividas.
Foto de Carissa Rogers | Flickr
E pior, sua prática é recorrente e cíclica, sempre promovendo a geração mais recente como a mais preparada e melhor talhada para o presente e o “futuro”. Mas isso não é de hoje, sempre foi assim, questionemos nossos avós, por favor. O resultado disto é o equívoco onde a geração do ‘momento” em breve será a geração “ultrapassada” e “velha”, cuja contribuição “obsoleta” deve ser esquecida.
Recentemente visitei um fundo de venture capital focado em startups, que entoava logo na recepção a seguinte inscrição “aqui não valorizamos a experiência”. Li aquilo e achei tão pueril que acabei rindo sozinho, e me segurei muito para não continuar rindo quando a reunião começou.
Durante a reunião… o mesmo do mesmo….. a eterna repetição de frases feitas e bobajais corporativos, que foram o suficiente para me convencer de que não seriam investidores talhados para o desafio que representava. E eu estava em busca de parceiros investidores a altura dos meus clientes, uma gente na faixa dos 23 anos, mas decidida, capaz e com as mãos enfiadas na massa, reunindo características boas de várias gerações. (Como? É simples, eles eram inteligentes para saber que a geração aplaudida de hoje será a renegada de amanhã, e por isso mesmo sempre filtraram este tipo de bobagem).
Contudo, já que nem todas as pessoas são providas da astúcia suficiente para identificar essas armadilhas, destaco abaixo algumas características típicas do iludido geracional, (seja a sua geração a A, X, Y, Z, ou W) esse enganado.
01. Ele acredita na excepcionalidade da sua geração porque presenciou caras na faixa dos trinta anos fazerem um bom dinheiro vendendo seus empreendimentos (Sempre foi assim, a excepcionalidade não é exclusividade de nenhuma geração. Thomas Edison o inventor da lâmpada elétrica já era mundialmente reconhecido aos 29 anos de idade, e isso foi em 1876);
02. Acredita que o fato de dominar uma prática ou tecnologia recente, o capacita para “conquistar o mundo”. (“Conquistar o mundo” demanda coragem, energia além do comum, astúcia, resistência ao sofrimento inerente ao percurso das grandes ambições, e capacidade de reunir uma “orquestra” de gente com distintos talentos, e que invariavelmente envolverá profissionais de diferentes gerações – Portugal sucumbiu a séculos de atraso depois das grandes navegações e o Império Britânico naufragou perdendo sua posição de proeminência internacional poucas décadas após a sua valorosa revolução industrial;
03. Ele acredita que toda startup necessariamente é uma empresa de tecnologia, ou de games;
04. Ele renega a experiência, no lugar de tentar acumulá-la e ser capaz de absorve-la a partir de profissionais com mais anos de estrada;
05. Ele possui o senso crítico atrofiado, e não consegue observar nas entrelinhas da sua geração as mesmas características que deplora nas gerações anteriores. (Por exemplo: na geração anterior os funcionários eram orientados a transitar pelos corredores e elevadores da empresa trajando paletó e gravata, e ele deplora isso. Mas na sua empresa quem não usar bermuda em um dia quente e ainda assim insistir em não socializar brincando com bolas coloridas em uma sala envidraçada, será sutilmente advertido de que não está correspondendo ao perfil “esperado”, ele não consegue identificar nisso a visceral semelhança entre as duas gerações.
06. É desprovido do conhecimento da história como ciência, (afinal ele deplora a experiência), e observa nisso uma vantagem;
07. Não gosta de enfrentar a realidade. Quando sua empresa sucumbi ao endividamento, ou aos conflitos de sociedade, ele não quebrou ou faliu, apenas passará para uma nova “hipótese” de negócio;
08. Ele renega as gerações mais jovens, então, preso ao passado com uma bola de ferro no calcanhar, não consegue admitir suas virtudes e prodígios, e talvez por isso mesmo crie uma barreira que acaba por barrar a disponibilização das suas próprias virtudes e capacidades;
09. Esquece que a história é cíclica e que os negócios são sempre submetidos aos ciclos econômicos, e por isso mesmo fica eufórico com períodos de bonança, esquecendo-se de que o abismo sempre nos espreita. (Após a primeira guerra mundial, muitos europeus e importantes empresários no mundo afirmavam com convicção de que a “era” das guerras e das destruições em grande escala tinham finalmente acabado e que dali em diante viveriam apenas paz, bonança econômica e êxitos tecnológicos. Esqueceram –se apenas de combinar com os alemães, mas tudo bem);
10. Ele não aceita o próprio envelhecimento e não abre espaço para as gerações mais novas, bloqueando a sua própria capacidade de reciclagem. (O fim político do homem que brilhantemente liderou a Inglaterra no seu momento mais difícil, Winston Churchill, foi melancólico).
Até o próximo.