Por: Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial e membro do conselho editorial da DVS Editora.
Caros leitores, como sabemos trata-se de um “lugar comum” em relevante parcela do nosso empresariado, professar o distanciamento com o universo político, baseados em uma mentalidade reinante de que são formados apenas para gerar resultados e fortalecer a economia, em um posicionamento que teima em deixar as questões públicas para aqueles que com seus impostos são sustentados.
Muito bem, não deixa de ser uma posição a se respeitar e de fato alguma coerência carrega. O problema é quando esse universo – o político – do qual se pratica o propalado distanciamento detém o poder de elevar impostos, intervir com mais burocracia atrapalhando a necessária simplicidade com a qual os negócios poderiam ser tocados (aqui nenhuma crítica com os marcos regulatórios, esses sim muito necessários), por vezes até mesmo reduzir a carga tributária com incentivos ocasionais e setoriais, com a contrapartida de mais exigências e outras intervenções. Isso sem enfocar o óbvio, de que mesmo com os recentes ajustes, ainda assim, no próximo ano, continuaremos firmes na competição com a Suécia para tentar ocupar o seu lugar como a portadora da maior carga tributária do planeta. E para ajudar, ainda existe a cultura dominante disseminada pelos meios culturais e de formação profissional e até mesmo por muitos ambientes de imprensa, pressionado empresários e empreendedores para pagar toda a conta do tão desejado bem estar social.
Em resumo, quanto menor é a participação do empresariado no processo político – e aqui rogo para não confundirmos isso com a atuação para a conquista de contratos públicos – mais intervenção estatal, mais burocracia, mais impostos sem retorno em serviços e investimentos estatais necessários e menos condições para conduzirmos com leveza a aventura que é gerar riqueza e sustento a partir de apostas e riscos assumidos.
Mas alguém, pertinentemente, pode me questionar sobre qual é a relação dos parágrafos acima com o título e consequentemente com a China? Vou explicar: o processo político chinês anda caótico, e vem mobilizando empresários e investidores preocupados com os caminhos que uma nomenclatura (típica expressão para resumir uma elite política com forte poder de intervenção estatal) eventualmente desconectada das boas práticas inerentes ao progresso econômico pode adotar. Resumindo mais uma vez, na contramão do que se propala no nosso Brasil Varonil, vemos no caso chinês o privado atento ao público pois sabe que este é poderoso e pode com algumas canetadas decidir o seu destino.
O tema veio a tona nestes últimos dias, com o alívio causado com a reaparição pública de Xi Jinping, (aqui mesmo já publicamos um artigo a respeito) que é cotado para suceder a posição do atual líder Hu Jintao. Um reaparecimento que veio após um mistério desaparecimento de cena, com explicações esquisitas, cancelamentos de compromissos de grande importância e outros sintomas típicos de nações capitalistas desprovidas de democracia.
Um cenário que causou apreensão na comunidade empresarial chinesa, uma vez que Xi é visto com um liberal que enxerga na gradual abertura política da China o caminho mais seguro para a manutenção do seu apogeu econômico, e que se preocupa com o crescente êxodo de empresários, investidores e membros da elite econômica do país, que embora permaneçam apostando, começam a diversificar seus investimentos e esforços em outros países, assim como passaram a enviar seus familiares para prosseguir com suas vidas em ambientes onde possam respirar maior liberdade política e de opinião.
Um fenômeno natural gerado pelo acesso aos benefícios do capital, e que não pode ser contido pelo nacionalismo ou padrões ideológicos, e cada vez menos pela repressão política e cultural.
Xi Jinping é o ator principal de um cenário político onde a luta entre o atraso e o progresso ganha proporções e atrai a atenção de uma sociedade esgotada com o modelo atual. Mais do que isso, poderá atuar caso se fortaleça no poder, como o elemento propulsor de uma nova era chinesa, que trará seus lucros sociais e econômicos, mas não escapando de enfrentar as forças conservadoras encasteladas em Pequim.
Um coisa é certa, contará com um empresariado cada vez mais consciente.
Para encerrar com uma nítida comparação conosco, coloco aqui uma sentença: em uma nação com forte presença estatal na economia a omissão jamais convergirá com lucros e prosperidade.
Quem viver verá. Até o próximo.