Por: Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial e membro do conselho editorial da DVS Editora.
Caro leitor, desde que comecei a apontar em meus escritos (e em outras verbalizações) sobre as ameaças que a euforia nascida em 2008 – e perpetuada ao longo dos três anos seguintes, diante da aparente percepção nacional sobre os irrelevantes impactos da crise imobiliária norte americana e seu contágio internacional – poderia trazer, com especial atenção para uma armadilha onde a sensação de infalibilidade e ufanismo econômico fragilizaria os ânimos e a disposição para perseguir a velha e necessária agenda de reformas, (garantindo um crescimento robusto, sólido e sustentável, pautado não apenas no consumo mas também na elevação da taxa de crescimento e nas questões voltadas à eficiência e produtividade) passei a me sentir deslocado em alguns debates econômicos (hoje bem menos). Eu era o pessimista de plantão, o chato da última hora, a voz desagradável que colocava defeito em uma festa tão alegre.
O tempo passou e a tal alegria, hoje repleta de sorrisos amarelados, pode ser observada no noticiário, nas análises dos especialistas, no ânimo dos investidores e do empresariado em geral. É verdade que existem exageros, é verdade que os argumentos nos incluindo no grupo dos “frágeis” podem carecer de consistência, sim, de fato temos munição para enfrentar trovoadas e turbulências com relativa tranquilidade, mas também é verdadeiro que nada disso precisava acontecer.
O problema do pensamento único e da euforia é que, invariavelmente, trazem no seu rastro a diluição do senso crítico. E é o seu vigor – ancorado na mais livre e incensurável expressão – e a sua prática cotidiana, lidando com o permanente contraditório e a natural dinâmica reivindicatória organizada de toda democracia, que se constrói as barragens de segurança da dinâmica econômica e social. É neste caldo que se cozinha o progresso, a prosperidade, e também é nele que se freia ou se estimula a participação do estado ou dos agentes privados. Não é de outra forma que o dever de casa é feito, livre de retóricas e dos jogos de poder.
Não se trata de mau agouro, de torcida contra isso ou aquilo e nem de questões patrióticas, mas da percepção crítica dotada de uma boa e saudável dose de constante insatisfação, sempre presentes nas histórias das grandes nações.
Em tempo, não se trata aqui de defender modelos econômicos específicos, orientações ideológicas e muito menos partidárias (é importante colocar isso em pleno ano eleitoral, quando tudo parede municiar a belicosidade dos radicais). Em quem voto ou deixaria de votar é problema exclusivamente meu, mas se estamos perdendo a oportunidade de construir um futuro sólido num voo firme e longínquo e no lugar disso dar mais um pulinho da galinha, ai sim, o problema é de todos nós.
Existem mudanças em curso no horizonte, mas talvez elas não estivessem presentes sem algumas vaias e desaprovações. Se isso se estabelecer, colheremos os frutos no futuro. No momento colhemos a safra anterior.
Trocando em miúdos, enquanto os aplausos alegram, o incômodo constrói.
Até o próximo