O jogo não pára, é claro, quando sua atenção é desviada dele; ele continua muito bem sem você, deixando-o brincar de correr atrás para compensar o prejuízo. Se a paixão e a integridade possibilitam formar uma “ola” positiva, propulsora da inovação e do sucesso, outras atitudes nos negócios podem criar uma negativa, uma ‘ola’ perturbadora que desvia a atenção.
Por Dov Seidman.
A força e o poder tanto da “ola” positiva quanto da negativa resultam do modo como decidimos nos inter-relacionar. Nossa experiência demonstra as várias maneiras que os pequenos deslizes no como podem nos prejudicar substancialmente.
O consultor empresarial Stephen Young popularizou uma nova palavra de ordem sobre esses pequenos momentos; ele os chama de micro-desvios. Linguagem corporal inadequada em uma reunião, pergunta em tom jocoso, piada de mau gosto em momento inoportuno – todos deslizes em como preenchemos os espaços entre nós e as pessoas com as quais trabalhamos – podem sutilmente sugar a produtividade de qualquer organização. Verificar as mensagens eletrônicas enquanto conversa com os colegas desvaloriza o tempo deles e, portanto, eles próprios. Consultar o relógio enquanto alguém faz uma apresentação despreza o esforço do palestrante. As avaliações de desempenho podem ser estruturadas de forma que os colegas de desempenho mais fraco retornem às suas respectivas mesas inspirados a melhorar ou de forma que eles fiquem desmoralizados e atualizem seus currículos. Esses micro-deslizes perturbam, infectando os relacionamentos interpessoais com dúvidas e medos. A dúvida e o medo aumentam a lacuna da certeza entre nós e os outros. A energia que deve ser concentrada na tarefa do momento ou na meta em comum é desviada para as preocupações políticas e de sobrevivência. Um indivíduo ou uma equipe perturbada e desconcentrada quase sempre perde.
Vou fazer outra pergunta (desta vez, não é teste). Na semana passada ou duas semanas atrás, quantas mensagens eletrônicas você abriu que tenham provocado algumas destas reações?
- Isso não foi o que combinamos.
- Isso me irrita.
- Por que você mandou com cópia para o chefe?
- Você está tentando me deixar em maus lençóis?
- Fiquei ofendido.
- Não vejo a menor graça.
- Por que você está enchendo minha caixa de entrada com todas essas coisas?
Você encaminhou essa mensagem a alguém? Ligou para algum amigo ou a pessoa amada para dizer, “Como está seu dia hoje, amor? Deixa eu contar dessa mensagem que acabo de receber”. Ou voltou a se lembrar da sua contrariedade na vez seguinte em que encontrou aquela pessoa, e essa lembrança o impediu de referir-se aos fatos? Todas essas coisas acontecem com muita freqüência no curso de um dia de trabalho. Elas geram sentimentos ruins, que se acumulam e provocam conseqüências. Nos negócios, as perturbações provocadas por deslizes da conduta humana reduzem a capacidade de qualquer um de se concentrar e, portanto, de trabalhar bem. É bem complicado ter êxito no universo competitivo dos negócios globais, mas se não se consegue concentrar em vencer, não se consegue aproveitar a chance. Uma mensagem eletrônica ou uma ligação perturbadora pode desviar a concentração da tarefa do momento.
Essas perturbações acontecem o tempo inteiro. Algum comentário inadequado entre um colega de trabalho e outro durante o almoço pode se agravar e acabar se transformando em acusação de assédio sexual. A equipe inteira e a atenção dos gestores imediatamente são desviadas para a apuração dos fatos. Os relacionamentos, antes fáceis e cordiais, ficam tensos e formais, e a produtividade rapidamente fica prejudicada.
A perturbação pode ser quantificada de todas as formas, algumas engraçadas – como a perda de produtividade possível de se imaginar em conseqüência do incidente da roupa – e algumas científicas. Estudos têm mostrado, por exemplo, que a distração de falar ao celular enquanto dirige exerce influência muito mais negativa no desempenho do motorista do que o álcool consumido dentro dos limites permitidos. Em um estudo, alguns motoristas efetivamente relataram ser mais fácil dirigir sob a influência do álcool do que falando ao celular, um forte testemunho dos recursos mentais necessários para equilibrar atenção e distração enquanto se está buscando atingir alguma meta.
No Capítulo 5, vimos os casos da Jenapharm e da UMHS e suas diferentes abordagens dos problemas jurídicos. O tempo, o dinheiro e a concentração organizacional dedicados no combate às batalhas jurídicas são simplesmente perturbações. As pessoas negociam para produzir mercadorias, oferecer serviços, resolver problemas reais, aumentar a eficácia e até melhorar a humanidade. Ninguém atua nos negócios para criar processos legais melhores. Um amigo me contou sobre um empresário que deixou uma carreira extremamente bem remunerada de vendas de softwares corporativos a grandes corporações para tomar seu próprio rumo. Com a esposa e o cunhado, abriu uma gelateria em um bairro famoso de Los Angeles para vender sorvete italiano extravagante com sabores como lemoncello com manjericão e martini de chocolate. O sucesso da loja foi imediato, triplicando todas as expectativas desde o início. Mas quando perguntei como tinha sido o primeiro mês, ele contou que eles gastaram quase todo o lucro nas despesas jurídicas de um litígio com o dono de uma padaria vizinha, discutindo se o croissant de presunto e queijo que estavam vendendo seria considerado tecnicamente um “sanduíche” ou uma “massa de torta”, e, como tal, se estaria infringindo a licença do estabelecimento, conflitando com os negócios da padaria. Isso foi tudo de que ele conseguiu se lembrar. As grandes corporações sofrem do mesmo destino em escala muito maior. As demandas da descoberta até mesmo da mais banal ação judicial podem custar às corporações milhões de dólares e, mais crucial ainda, milhares de horas de perturbação no trabalho.
Os seres humanos têm bons e maus dias, perturbações no trabalho e perturbações em casa. Incidentes com a roupa acontecem. Reconhecer esse fato e aprender a reduzir as perturbações que desviam sua mente do jogo podem torná-lo mais ágil que o concorrente, mais concentrado e ajudá-lo a usar suas energias de forma mais produtiva. Permanecer concentrado no jogo – aprendendo a reconhecer e domesticar tanto as vozes da sua mente quanto os comos que afetam os outros – é um desafio constante, mas mais importante do que nunca em uma época em que pequenos deslizes podem significar altos custos.
Sobre Dov Seidman
Segundo Seidman, a nova lógica mundial prega o comportamento, a transparência e conectividade como fatores de diferenciação. É o que o autor chama de “Out-Behaving de Competition”.
“O mundo mudou”, defende o autor, “a popularização da tecnologia da informação tem feito do bom comportamento um fator de extrema importância porque se torna cada vez mais difícil esconder o mau comportamento. Em última análise, a única maneira de desfrutar de uma boa reputação é a ganhá-la vivendo com integridade. Nós não podemos controlar nossas histórias, mas podemos controlar a forma como vivemos nossas vidas.”
Dov Seidman é chefe da LNR, empresa que tem ajudado algumas das mais respeitadas companhias do mundo a criar culturas vencedoras do “fazer o certo”. Em seu livro COMO: Por Que o COMO Fazer Algo Significa Tudo . . . nos Negócios (e na Vida), ele mostra como a avalanche de informações e a transparência sem precedentes remodelaram o universo empresarial de hoje e mudaram expressivamente as regras do jogo. Não é mais o quê se faz que o distingue dos outros, mas o como faz. Os o quês são itens básicos, fáceis de serem copiados ou de se aplicar engenharia reversa. A vantagem sustentável e o sucesso duradouro – tanto para as companhias como para as pessoas que nelas trabalham – hoje estão na esfera do como, a nova fronteira da conduta.