Judy Estrin, conselheira administrativa da Disney e uma das 50 mulheres mais poderosas da área empresarial segundo a revista Fortune, fala com exclusividade ao Administradores sobre reinventar práticas para aumentar a produtividade.
Por Fábio Bandeira de Mello, www.administradores.com.br
O que é preciso para impulsionar a inovação e a criatividade dentro do ambiente empresarial? Elas surgem por lampejos de inspiração ou são frutos de uma meticulosa administração?
Quando falamos sobre novas fórmulas ou projetos para que empresas obtenham visibilidade com o público e sucesso financeiro, dúvidas como essas são comuns em muitas organizações que procuram o “insight” certo para posicionar sua empresa na frente de seus concorrentes.
Para retirar algumas dessas dúvidas sobre os princípios fundamentais para estimular a inovação e a criatividade dentro das empresas, o Portal Administradores realizou uma entrevista exclusiva com a executiva americana Judy Estrin.
Judy é integrante do conselho de administração da Walt Disney Corporation e da FedEx Corporation. Ela já integrou também por três vezes a lista da revista Fortune das 50 mulheres mais poderosas da área empresarial norte-americana.
Além disso, faz parte do conselho consultivo da Escola de Engenharia da Universidade de Stanford e do comitê consultivo de Ciência e Inovação da presidência da Universidade da Califórnia.
De acordo com Judy Estrin, que lançou recentemente o livro Estreitando a Lacuna da Inovação, o primeiro passo para todo esse processo de novas ideias é entender que “a inovação não se resume a uma frase de efeito”.
A executiva explica que a inovação é estimulada por um conjunto de princípios fundamentais que interagem equilibradamente: questionamento, disposição ao risco, abertura, paciência e confiança. Esses valores agrupados é que determinam a capacidade para mudar de um indivíduo, organização ou nação. Confira a entrevista completa:
1 – Por que a maioria das empresas sente tanta dificuldade em reinventar suas práticas de modo a conseguir um ganho de produtividade?
As empresas podem ser resistentes em reinventar as suas práticas por uma série de razões. Muitas vezes, as empresas mais bem sucedidas têm mais dificuldade de aceitar a mudança porque acreditam que é sua maneira de fazer negócios que lhes trouxe sucesso e não há motivos para mudá-la.
O sucesso muitas vezes as cega para o fato de que o mundo está mudando ao seu redor e fica difícil entender que aqueles que hoje estão “em cima” não continuarão lá, a menos que continuem a melhorar, mudar, inovar. Muitas empresas e pessoas simplesmente têm problemas em questionar o status quo e têm medo da mudança.
2 – Existem elementos que ajudam o processo de incentivar e impulsionar a inovação dentro do ambiente empresarial? Quais seriam?
Há muitas diferentes formas de encorajar a inovação no desenvolvimento de uma empresa, e o ponto forte do meu livro está em justamente discutir isso mais detalhadamente. Como melhor encorajar a inovação depende do tipo do grau de maturidade da empresa, do tamanho da mesma, do tipo de inovação desejada e da cultura da companhia.
Comum a todas as situações é o papel fundamental que desempenha uma liderança forte ao criar o ambiente certo e contratar o tipo certo de pessoas. No livro, discuto os cinco elementos-chave – eu chamo-lhes valores fundamentais da inovação – que, acredito, devem estar em equilíbrio para se ter uma cultura em que a inovação prospere. Eles são o questionamento, o risco (ou atitude em relação ao fracasso), a abertura, a paciência e a confiança.
3 – Você poderia dar três exemplos de empresa que através da inovação conseguiram sucesso?
Ao longo do livro, eu cito empresas inovadoras de sucesso para ilustrar os diferentes tipos de inovação, incluindo a FedEx, a The Walt Disney Company e a Pixar Studios, Apple, Intuitive Surgical e Procter e Gamble.
4 – Os inovadores já nascem prontos ou são treinados? Como você analisa o papel das próximas gerações para o constante aprimoramento da inovação?
Creio que a inovação é um produto que é em parte natural e em parte pode ser nutrido. Algumas pessoas são intrinsecamente mais criativas do que outros e, assim, desempenham um papel mais forte na fase de idealização de inovação. Aquelas que são mais detalhistas e metódicas desempenham um papel importante na implementação e teste de novas ideias ou novos processos.
Todos os tipos de pessoas têm um papel a desempenhar na inovação. Em todos os casos, no entanto, há os cinco valores essenciais que eu descrevi antes, e que não se aplicam apenas às culturas (empresariais ou não), mas também aos indivíduos, e precisamos incentivar estas características para trazer a inovação em todos nós.
Se você pensar bem, as crianças nascem com esses valores. Elas são curiosas, não têm medo de tentar e falhar, possuem grande imaginação, são tenazes e confiantes. Infelizmente, como eles passam a integrar a sociedade e nesse processo passam por sistemas de ensino cuja maior parte desencoraja muitos desses traços ao invés de incentivá-los. Precisamos pensar sobre estes valores fundamentais, assim como refletir sobre a educação que os pais darão para essas futuras gerações.
5 – Você acredita que o fracasso de algumas empresas aparentemente consolidadas pode estar na falta de interesse em inovar e de buscar outros diferenciais aos seus consumidores?
Esta é uma pergunta difícil de responder sem falar de exemplos concretos, mas acredito que as empresas que se tornam muito grandes têm mais dificuldade em adotar novas ideias. Em virtude de seu tamanho elas têm uma dificuldade de financiar novas iniciativas que podem começar de forma pequena e tímida, mas que no final acabam se tornando um elemento essencial para uma oportunidade de crescimento maior ainda para estas empresas.