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E se tudo o que te disseram sobre mudanças no clima for mentira?

Mudanças climáticas

Harbin International Ice and Snow Sculpture Festival - Festival do gelo em Harbin, China. (Foto: Lukas Hlavac)

Por Václav Klaus, presidente da Rep. Tcheca

Vale a pena começar este capítulo com alguns dados ilustrativos. Entrei em contato com o Instituto Hidrometeorológico da República Tcheca, que havia recentemente publicado um “Atlas Climático da República Tcheca” (Tolasz, 2007) bastante convincente, e pedi a seus pesquisadores que me fornecessem uma série temporal aleatória de uma estação meteorológica com dados de longo prazo sobre temperatura. Recomendaram-me que não escolhesse Praga, e sugeriram, em vez disso, a estação meteorológica de Opava.

Aquecimento-global

À primeira vista, não há nenhuma tendência evidente relativa ao tempo. A temperatura média de Opava durante os últimos 86 anos foi de 8,3°C. Se fizermos uma simples análise de regressão, obtemos um componente tendencial de 0,0028°C por ano. Para os leigos, isto representa um aumento de temperatura de 0,028°C por década e 0,28°C por século. É evidente que a estimativa deste parâmetro não é estatisticamente significativa, e eu gostaria de ressaltar que meu objetivo certamente não era encontrar uma linha ou uma curva que expressasse de maneira representativa os 86 valores desta série temporal. Também estou plenamente consciente de que, quando consideramos um período de tempo relativamente curto, muito do resultado depende da escolha de um começo e de um fim – datas, neste caso, que foram determinadas não por mim, mas pelo Instituto Meteorológico Tcheco. Obviamente, a escolha de um ponto de partida diferente poderia ter levado a resultados diferentes.

É possível “brincar” com o começo – assim como com o final – desta série temporal. Tais mudanças são bastante significativas. É possível obter várias médias móveis. Os meteorologistas usaram a média móvel padrão de 11 anos, pois seu cálculo corresponde ao período da atividade solar. Eu mesmo calculei várias outras, mesmo médias móveis de 30 anos, sem observar mudanças fundamentais nos resultados. A média móvel de 30 anos demonstra temperaturas elevadas a princípio, uma diminuição posterior da temperatura (até os anos 1970), e um pequeno aumento no período final. Para o leitor leigo, provavelmente será mais fácil observar as médias de cada década. Com uma média geral de 8,3°C, a média das décadas 1921-1930 e 1931-1940 é de 8.5°C, nível que foi alcançado novamente em 1991-2000. O único período mais quente que os 20 anos entre 1921 e 1940 é a década incompleta de 2001-2006. Não é minha intenção extrair conclusões gerais destes dados e nem superestimar de modo algum sua importância; eu os apresento apenas como um ponto de partida para ilustrar o problema.

“Quanto mais ‘imprevisível’ parece ser o desastre, mais dinheiro estará à disposição dos cientistas.”

Os resultados de uma análise empírica de mudanças climáticas levada a sério (e também do aquecimento global), a credibilidade dessas análises e – para adicionar mais uma dimensão – a credibilidade da apresentação dessas análises pelos meios de comunicação são completamente diferentes das considerações econômicas ou sociológicas aqui apresentadas. Embora possa ser difícil de acreditar, essas considerações são duas coisas mais ou menos diferentes.

Patrick J. Michaels, ex-presidente da American Association of State Climatologists (Associação Americana de Climatologistas), desafia – em minha opinião, de forma bastante convincente – o fenômeno do aquecimento global em seu livro Meltdown: The Predictable Distortion of Global Warming by Scientists, Politicians, and the Media – 2004 (Colapso: A Previsível Distorção do Aquecimento Global por Cientistas, Políticos, e a Mídia, na tradução livre). Ele apresenta três perguntas elementares que dão uma estrutura racional a todo o problema:

• Há um aquecimento global?
• Em caso afirmativo, ele foi causado por seres humanos?
• Em caso afirmativo, podemos fazer algo a respeito?
Poderíamos acrescentar uma quarta pergunta: um aumento moderado de temperatura no futuro faria diferença?

Um renomado cientista americano, S. Fred Singer (2006), levanta questões bastante semelhantes em seu ensaio The ‘Climate Change’ Debate (O Debate sobre a Mudança Climática, na tradução livre):

• Há indícios – pró ou contra – de significativa contribuição humana para o aquecimento global atual?
• Um clima mais quente seria melhor ou pior que o clima atual?
• Podemos de fato fazer algo quanto ao clima?

Esse e muitos outros autores chegam a conclusões diametralmente opostas às que são politicamente corretas ou estão na moda hoje. Tais autores também tentam apurar o que está por trás das diferenças existentes. Eles não acreditam que grande parte da disputa tenha a ver com a ciência propriamente dita. Em seu último estudo, Michaels (2006, 1) examina cuidadosamente “tanto os recentes relatórios científicos sobre mudanças climáticas quanto a comunicação desses relatórios” ao público. Acrescento que este artigo foi publicado antes do relatório Stern (2006) completo, mas entre a publicação de seu resumo político e a publicação do resumo político do quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel for Climate Change, ou IPCC) (IPCC, 2007).

O problema fundamental, segundo Michaels, reside na grande discrepância entre os relatórios científicos originais e a apresentação pública destes resultados pelos meios de comunicação. O resultado é a disseminação em massa, aparentemente deliberada, de meias-verdades (ou mesmo mera desinformação) por parte dos meios de comunicação, muitas vezes com o propósito primordial de aumentar ao máximo o generoso financiamento público para pesquisas sobre desastres em potencial. Quanto mais “imprevisível” parece ser o desastre, mais dinheiro estará à disposição dos cientistas.

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