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O sonho chinês: abertura lenta e gradual

Caros leitores, comecemos pelos fatos objetivos. Nos próximos dois anos, uma camada considerável de importantes políticos chineses, pertencentes ao Partido Comunista Chinês (a única agremiação política permitida) se aposentará, e com isso virá uma renovação. Na vanguarda desse movimento desponta um nome: Xi Jinping.

Por Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial e membro do conselho editorial da DVS Editora.

Ele é o atual Vice Presidente da China. Mais do que isso, até 2013, deverá se tornar o principal líder Chinês, substituindo Hu Jintao, que se notabilizou como um duro negociador com o ocidente. O homem pertence ao grupo conhecido como “os jovens príncipes”, que reúne os filhos de líderes revolucionários chineses. Uma elite formada como fruto da revolução cultural, destinada a conduzir o futuro do País. Sim, os comunistas também adoram uma elite (a do partido, naturalmente).

Deixando um pouco os fatos objetivos de lado, avancemos pelo histórico deste senhor. Filho de um proeminente – e corajoso – político Chinês, expulso do partido comunista em 1962 por apoiar uma publicação considerada crítica ao presidente Mao Zedong, mas que reabilitado em 1978 assumiu papel relevante na construção da China moderna com sua adesão ao capitalismo de estado. Em 1987 seu pai defendeu reformas políticas no partido e em seguida condenou a violenta repressão aos protestos de 1989 na Praça da Paz Celestial, episódio que marcou como a última mobilização de grande relevância da sociedade Chinesa, que na época clamava pela mistura de capitalismo com democracia. Mas como nem tudo se pode ter nessa vida, os tanques avançaram, os líderes presos e perseguidos, e para o pai de Xi restou (por sorte) apenas o desprestígio político.

Mas o contexto familiar, suas sequelas, e um passado marcado por vários contatos e interações com o ocidente, como a ocasião na qual liderou uma delegação de especialista em alimentação animal em uma viagem oficial ao Estado de Iowa (EUA), podem ter contribuído para a formação de um perfil significativamente diferente daquele que deverá suceder.

Durante anos, e ao longo de sua ascensão na hierarquia do partido comunista, Xi Jinping cultivou uma forte relação com os EUA, com inúmeras viagens, relacionamentos sólidos e construídos de forma confiante e assertiva, incluindo encontros regulares nos últimos anos com Henry Paulson (ex-secretário do Tesouro). Sua esposa (Peng Liyuan) é uma famosa cantora pop na China e sua filha estuda em Harvard.

O resultado de tudo isso é um provável arejamento na relação com o ocidente, o que não representará necessariamente refresco no avanço das ambições deste que hoje figura como o principal dos Bric’s.

Precisamente na última semana, Xi iniciou uma visita de cinco dias aos EUA, começando com o programado encontro com o presidente Barack Obama e se estendendo aos Estados de Iowa e da Califórnia onde serão realizados encontros com empresários e investidores. Mas o que marcou a visita é o tom sutilmente mais conciliatório, sem deixar a retórica das temáticas mais espinhosas em linha com a estratégia diplomática. Mas, mesmo assim, ficou patente a inequívoca diferença com o atual líder.

Os mais otimistas começam a alimentar as esperanças de que Xi Jinping poderá, juntamente com a esperada renovação nos quadros do partido comunista Chinês, iniciar um processo de distensão, lenta e gradual , (parafraseando a expressão adotada pela ditadura militar brasileira nos anos 70), para aí sim garantir à China o status de economia de mercado, e quem sabe equipada com o sopro de liberdade típico de uma crescente democracia.

Se essas expectativas se concretizarem, o resultado não será certamente o de um cenário com menos concorrência e reduzida ambição internacional, mas a calibragem de muitos parâmetros tornará a briga em algo no mínimo mais razoável. Além disso, certamente realizará os sonhos de uma elite empresarial chinesa esperançosa por vivenciar a atmosfera de liberdade real, que observam em suas experiências no exterior.

Quem viver verá. Até o próximo.

*A Plataforma Brasil Editorial atua como uma agência independente na produção de conteúdo e informação.

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